Uma breve apresentação.

Olá, estimados leitores! É com um imenso prazer e gratidão que venho lhes escrever. Manterei minha identidade preservada, acho que no anonimato poderei me expressar melhor e ainda evitarei magoar muito àqueles que eu amo. Chame-me apenas VENCEDOR. Mesmo entendo pouco sobre sites, blogs e tudo isso mais resolvi fazer meu Blog. Achei que era necessário contar ao mundo algumas de minhas experiências. Claro que quase todas essas experiências as quais me refiro me causam ainda muita vergonha e arrependimento. Mas me sinto cada vez melhor, à medida que o tempo se vai. Então por que escrever? Para alertar ao mundo sobre as conseqüências de nossos atos. Para que vocês pais cuidem de seus filhos. Não estou dizendo dar dinheiro, carro, boas roupas, mordomias, etc. Pais, cuidem da formação moral de seus filhos! Simplesmente pelo fato de vocês terem as melhores intenções, não implica que os resultados destas boas intenções serão os melhores. Cuide de todos que você ama para que não caiam no mesmo mundo escuro e sombrio no qual eu “entrei”. Sou um ex-viciado em CRACK. Consumi a droga diariamente por quase três anos. Com toda a certeza foram os piores da minha vida. Hoje (23/06/2009) estou “limpo” há nove dias. Sei que é um tempo muito curto, mas afirmo que tenho me sentido maravilhosamente bem nesses ultimos dias. Como já não me sentia ha 3 anos. Por isso comecei a escrever. Espero aqui, pode ajudar a todos que queiram ajuda, poder dar uma esperança e um exemplo de como podemos superar nossos maiores problemas. Só depende de nós! Muito cuidado com o primeiro gole, com o primeiro trago, com o primeiro baseadinho. Se você tiver algo mais pra tomar cuidado é porque já não se cuidou o suficiente. Mas pra tudo há uma saída depende apenas de nós. Decida viver!

22 julho 2009

Crack - Um avanço indiscriminado

Olá, amigos leitores!

Primeiramente gostaria de me desculpar pela pequena ausência ao blog. Estive um pouco ocupado por esses dias, colocando a vida em ordem. Afinal de contas, não basta apenas deixar o crack, é preciso consertar alguns estragos que ficaram, não todos porque alguns não vão poder nunca ser consertados. Mas é isso aí, olhar adiante e seguir em frente, consciente dos erros passados, mas agora buscando me superar a cada dia. E claro, viver sem o crack. Também agradeço as inúmeras postagens e apoio que tenho recebido, tem sido muito importante na minha recuperação.

Completam-se hoje 38 dias desde a útltima vez que usei crack, não foi fácil, mas foi muito possível. Como ja contei em minha história, não procurei tratamento ou ajuda médica já que para isso, como eu já não tinha dinheiro algum, toda minha família saberia e apesar de todo apoio, que com certeza ganharia, seria muito doloroso. Mas eu tinha a certeza que cabia a mim sair daquela situação. Decidi que hora de parar, ja que eu ainda estava vivo, e de uma vez por todas dei um basta. Tem funcionado bem, mas claro que não é tão simples assim, precisa ter muita vontade, muita mesmo! Uma motivação interior muito forte.

Afim de buscar um pleno conhecimento sobre a situação brasileira com relação ao crack, ja que essa parte era até então ignorada por mim, tenho lido muito, buscando para assim escrever da melhor forma possível. E o que posso dizer a todos é que tenho me decepcionado muito. Há excelentes autores falando sobre o assunto em matérias realmente muito boas, mas o que me choca é o tamanho avanço que essa droga conseguiu. Eu achava que sabia muito bem sobre a situação do crack com relação a classe média, os danos socias causados pela droga e tudo mais, besteira! Eu não sabia nada.

A epidemia do crack, que foi iniciada em São Paulo na década de 80 destinada somente aos pobres, se espalhou definitivamente por quase todo o país. Quase todos porque nosso extremo norte parece ainda estar livre, não há relatos de apreensões significativas de crack no Amazonas. O fato é que deliberadamente a droga avançou país afora e conseguiu conquistar a classe média de forma assustadora. Uma classe aparentemente bem formada, esclarecida e que desde o começo parece ter ignorado essa droga e o seu poder de destruição principalmente por a considerarem como a droga do pobre, do favelado e que seus filhos, matriculados em boas escolas, nunca seriam atingidos. As consequências agora estão aí, batendo a porta. Pior cego é aquele que não quer ver, é a mais pura verdade.

Em quase todos os estados, a quantidade de apreensões de crack tem se multiplicado esmagadoramente. Alguns estados confirmaram um crescimento de até 10 vezes na quantidade apreendia nos últimos 5 anos. As clínicas de recuperação tiveram um aumento de cerca de 80% nas internações devido ao crack, clínicas essas particulares, de alto custo e antes procuradas na maioria por usuários de cocaína. Hoje a maioria são viciados em crack. Pelo menos a classe média ainda pode bancar o tratamento, que é caro e ineficiente na maioria dos casos. O poder de destruição do crack é tão grande, que na verdade, não há recuperação plena. Uma vez usuário, sua vida muda e a partir daí é necessário que haja um controle constante, algumas restrições. Não pode mais sujeitar-se a menor tentação que seja ou tudo pode voltar ao começo e as recaídas são sempre piores. Sei bem disso, por experiência própria.

Sempre leio que o perfil do usuário de crack mudou, não concordo. Acho que o crack é que ganhou um novo perfil de usuário, porque na verdade, analisando bem, todos terminarão miseráveis da mesma forma. Assim, no final, o perfil acaba sendo praticamente o mesmo. A diferença passa a estar apenas no que o usuário foi antes da droga. Esse é o maior problema do crack. Independente de quem seja o usuário e de seu poder aquisitivo o efeito da droga é o mesmo. Claro que na classe média os danos sociais parecem ser muito maiores, ha a impressão de que se tem muito mais a perder. Bons filhos, bons alunos, futuros excelentes profissionais, pouco importa. Tudo isso se vai com a chegada do crack e restarão apenas futuros mendigos.

Gostaria aqui de citar o trecho de um excelente texto de "Rubens Filho" falando um pouco sobre as drogas e as campanhas de prevenção, que recomendo a todos sua leitura

( http://www.amigosdepelotas.com/2009/06/drogas-nem-pensar.html )


"O que faz a droga? Ela permite momentos de fuga do "mundo real". Instantes de alívio justificáveis num país e num planeta que respondem aos problemas humanos com eficácia infinitamente menor do que os produz. Não é nada fácil para um jovem encarar a vida com otimismo num país com os problemas do nosso. O que dizer do planeta?, assolado pela destruição da natureza, pelo aquecimento global, pelo retorno da ameaça nuclear, pela epidemia de Aids...

Crianças e jovens consumindo drogas são o retrato de inúmeras falências políticas, econômicas, sociais, diplomáticas. São também uma expressão da crise de valores, inclusive dos meios de comunicação (os mesmos que promovem campanhas samaritanas), habituados a difundir, por exemplo, o esgoto de um Big Brother Brasil como modelo de comportamento para garotas e garotos.

Outra falha conceitual dessas campanhas é creditar a violência ao consumo de droga. Essa associação direta, além da carência de base científica, apenas reproduz um preconceito moral; afinal, mesmo que seja paradoxal, costuma-se igualmente creditar a indolência da juventude ao uso de drogas.

No fundo, essa relação droga-violência é um subterfúgio do poder público e da sociedade, pelo qual lavam as mãos diante de sua parcela de responsabilidade pela violência, obviamente motivada por outros tantos fatores muito mais sérios e complexos. Nesse cenário, a droga aparece como sintoma, não como causa."

Rubens também cita algo muito importante e que concordo plenamente, com total conhecimento de causa, que é a ineficiências das campanhas publicitárias de prevenção e combate e vê o refúgio nas drogas, no fundo, como nada mais sendo do que um depoimento de insatisfação com a realidade que nos cerca. Mas por que então nos refugiarmos ao invés de lutarmos para mudar essa realidade que nos cerca? Nos jovens podemos associar o uso de drogas à busca por novas emoções, aventuras, mas e nos já experientes adultos, o que podemos dizer? Na maioria podemos dizer o vício em drogas vem desde o tempo de jovem. Isso talvez explique o nível de degradação da nossa sociedade, que não é de agora, mas que vem desde muito tempo atras se evoluindo, fruto de um descaso geral.

Outro estudo muito interessante, que também recomendo, chamado "Seqüência de drogas consumidas por usuários de crack e fatores interferentes" (http://www.scielo.br/pdf/rsp/v36n4/11760.pdf), nos mostra que independente da classe, idade ou escolaridade todos os usuário de crack começaram com o álcool e cigarro. Pra quem sempre acho que por serem legais eram drogas amenas, ta aí! Eu sempre defendi a idéia de que tudo começa no álcool e cigarro, não na maconha, que é apenas pré cursor da ilegalidade e bem menos prejudicial socialmente que o álcool.

De fato, nossa situação é grave. Não podemos mais ignorar o crack ou mesmo considerar que estamos imunes, isso é ilusão. O crack está aí, e tem cada vez mais adeptos na classe média e está começando a atingir os ricos. Um exemplo disso nos foi mostrado ha pouco tempo atrás, uma mãe matar seu filho viciado em crack para poder se defender, uma família de classe média alta destruída pela droga. Isso nos mostra o poder que o crack tem. Não é algo com o qual podemos dormir despreocupados porque nunca nos atingirá. Qualquer pessoa está sujeita, é inegável.

É hora de repensar nossos conceitos e agir de maneira eficiente, não adianta apenas por a culpa no governo e sentarmos esperando que tudo se resolva. Precisamos agir, educar bem nossos filhos, impor limites, regras, dar orientação certa além de muito diálogo. É besteira dizer sempre que drogas são ruins, elas não são, suas consequências sim são devastadoras, mas os efeitos são incríveis, eu sei bem. O preço que se paga é que é muito alto, as vezes custa até a própria vida. É um jogo no qual é impossível ganhar. Não se preocupem em mudar o mundo e livrar todos os viciados, curar todos e tal. Cuide muito bem apenas daqueles que estão bem próximos a você. Conheço bem a história de um policia Militar, do DENARC, que lutou por mais de 20 anos de carreira contra o crack e perdeu seu filho para a droga. Cuidem dos que estão próximos, todos fazendo isso, certamente um dia resolveremos o problema pois atingiremos todos.

Quanto aos que ja se encontram afundados no crack, como eu estava, apenas confirmo que sem muita vontade e determinação por parte do usuário não há tratamento que funcione. Só com muita força de vontade e dedicação é possível superar qualquer vício. Mas só essa força de vontade, por si só, nem sempre é suficiente. O apoio e amor da família são fundamentais, além da busca por uma motivação que desperte a vontade de deixar o vício. Em primeiro lugar, não temos que curar a dependência física da droga, e sim a psicológica. Essa sim é fundamental pois sua mente comanda seu corpo. Foi isso que eu fiz e tem funcionado muito bem, sei que qualquer um também pode.

07 julho 2009

Drogas - Você consegue passar no teste?

VEJA SE VOCÊ CONSEGUE PASSAR NESTE TESTE SOBRE DROGAS?

Verdadeiro ou Falso?

1. Existem drogas boas e drogas ruíns.

2. Alguns tipos de frogas não prejudicam a sua mente.

3. Ninguém sabe o que leva as outras pessoas a usarem drogas.

4. A maioria das drogas não se transforma em hábito.

5. Álcool não é um tipo de droga.

6. Baseado ou maconha não são prejudiciais.

7. Êxtase é mais segura que outras drogas.

8. Drogas aumentam a criatividade.

9. Drogas melhoram o desempenho sexual.

10. Drogas permanecem no corpo por um dia.


TODAS ESSAS 10 AFIRMAÇÕES SÃO FALSAS!

A maiorias da informções que as pessoas recebem sobre drogas não são verdadeiras. Essas informações vem de pessoas que vendem ou usam drogas.
Companhias que fabricam drogas fazem propagandas na televisão a fim de vendê-las e ganhar dinheiro.

Pessoas que vendem drogas nas ruas também fornecem informações falsas sobre as drogas.
Pessoas que tomam drogas, geralmente pensam que elas são seguras. Às vezes quando acabam sabendo da verdade, poderá ser tarde demais. Antes de você formar uma opinião sobre drogas, você precisa saber o que é que elas fazem.


Descubra a verdade sobre as drogas e salve uma vida !!!

1. TODAS AS DROGAS SÃO VENENOSAS.
Todas as drogas são venenosas. A quantidade que você toma é o que decide o tanto que irá te afetar.
Uma quantidade pequena pode funcionar como um estimulante. Uma quantidade um pouco maior será como um sedativo (te fazem dormir). Uma quantidade maior ainda age como veneno e podera matá-lo.

2. TODAS AS DROGAS AFETAM A MENTE
Quando a gente pensa em alguma coisa, essa coisa funciona como uma imagem dentro da nossa mente.
Essas "imagens mentais" são bem fáceis de visualizar. Se você por exemplo fechar os olhos por alguns segundos e pensar num gato, você verá a imagem de um gato. Nossa mente captura 25 imagens a cada segundo, e arquiva essas imagens para que sejam utilizadas no futuro.

Normalmente, quando uma pessoa lembra de alguma coisa, a mente trabalha muito rápida e traz informações daquelas imagens arquivadas anteriormente.

Mas as drogas fazem essas imagens ficarem embaçadas, fracas, causando vazios na mente.

E com a mente nesta situação, a pessoa não consegue nenhuma informação dela. As drogas fazem com que as pessoas se tornem lentas e até estúpidas. Isso poderá causar fracassos na vida dessas pessoas. E quando as pessoam fracassam na vida, o que é que elas vão procurar ainda mais? DROGAS!

3. PESSOA TOMAM DROGAS PARA SE LIVRAREM DE SENSAÇÕES INDESEJÁVEIS
Qualquer um que toma droga para se livrar de alguma dor, sensações indesejáveis, incluindo tédio. Para entender o que leva uma pessoa a tomar drogas, você tem que saber o que estava acontecendo de errado antes de ele ou ela tomá-las.

Pode ter sido algum problema físico que tenha causado dores. Talves ela estivesse precisando se acalmar um pouquinho.
Talvez ele não estava conseguindo dormir. ele estava querendo ficar um pouco mais alegre ou talves ele estivesse se sentindo entediado.

As drogas foram uma solução temporária para sensações indesejáveis. Para se achar a solução real, a pessoa teria que se livrar das causas dos problemas antes de tudo.

4. QUANDO PASSA O EFEITO DA DROGA, A PESSOA QUER MAIS AINDA.
Quando passa o efeito da droga, a dor ou outra sensação que tinha passa, volta ainda mais forte do que antes.

Se alguém por exemplo teve um problema que o fez tomar drogas... vamos dizer que ele estava "com muita vergonha" para chegar em alguém numa festa... Ele até tomaria uma droga para relaxar.

Quando passo o efeito da droga, a sensação de nervosismo é pior que antes... e ele quer MAIS drogas para poder acalmá-lo.

O problema dessa pessoa em conversar com outras pessoas não irá desaparecer até que ele faça alguma coisa com sua timidez e descubra que ele PODE falar com outras pessoas com ou sem drogas.

5. ÁLCOOL É A DROGA MAIS USADA DE TODAS ELAS.
Álcool é um tipo de droga. Como qualquer outra droga, ele é venenoso para o corpo humano. assim como outras drogas, o álcool absorve as vitaminas do seu corpo e o torna cansado ou doente após tomá-lo. Isso é o que causa a ressaca.

O corpo humano necessita de vitaminas para sobreviver. Se você não seguir uma dieta corretamente, você não obterá as vitaminas necessárias para o seu corpo. Isso poderá causar cansaço ou até doença.

Toda vez que você utiliza drogas, elas queimam vitaminas do seu corpo. Se você toma uma quantidade suficiente de drogas, você poderá se sentir mal ou doente. O que acontecerá se você continuar tomando drogas para se sentir melhor, sendo que cada vez que você as ingeriu elas queimam suas vitaminas? O problema se torna PIOR.

6. MACONHA DANIFICA OS PULMÕES, SISTEMA NERVOSO E CÉREBRO.
Existem 400 componentes químicos na maconha, dentre eles 60 são comprovados de causar câncer. Esses componentes químicos permanecem no corpo humano por muitos anos. A maconha contém THC, ou seja, neurotoxina, que é um veneno que afeta o cérebro.

Quando alguém fuma maconha, duas coisas acontecem:
1. Existe uma queima quase imediate de vitaminas e sais minerais no corpo.
2. Os nervos se tornam adormecidos.

Cada vez que uma pessoa fuma maconha e fica "ligado", ela então se sente "tão" legal como dizem, e cada vez mais se sentirá pior. Eventualmente, os fumantes de maconha não desejam a droga... mas eles PRECISAM da drogas para aliviar condições indesejáveis que as drogas acabaram criando em seus corpos. Seus corpos nunca absorverão a quantidade de vitaminas necessárias para compensar o que as drogas destruiram.

7. A ÊXTASE É UMA DAS DROGAS MAIS PERIGOSAS QUE EXISTEM.
Recentes pesquisas têm revelado avarias no sistema nervoso, decorrentes do uso de êxtase. Uma recente apresentação na MTV, mostrou casos de danificação no cérebro, incluindo buracos, causados pela droga.

O êxtase é uma droga alucinadora (ou seja, uma droga que age na mente, que faz as pessoas verem ou sentirem coisas que não estão acontecendo ou que não existem). Essas são algumas das mais perigosas drogas que existem.

Alucinações provocam imagens na mente que se tornam confusas. Uma pessoa pode ser levada ao passado quando algo ruim ou triste aconteceu e acabar ficando presa naquela situação, sem nem mesmo perceber. Isso poderia causar uma sensação constante de medo, tristeza ou outro tipo de tristeza que não tem nada a ver com o que ela está sentindo no presente.

8. DROGAS DESTROEM A CRIATIVIDADE.
Existe uma escala de emoções em que as pessoas se posicionam para cima e para baixo ao longo de suas vidas. Veja o exemplo:

ALEGRIA/INTERESSE / TÉDIO / RAIVA / MEDO / TRISTEZA / APATIA

Vamos dizer que alguém esteja atediado. Aí ele fuma uma maconha, o que fará com que seu sistema nervoso se torne adormecido, dando uma sensação de alegria falsa. Diz-se falsa, pois o que acontecerá quando passar o efeito da droga? Sentirá-se horrível e não estará nem aí com nada. E aí quando ela retorna à régua de emoções, se sentirá mais para baixo do que ates de tomar a droga.

A pessoa desce e desce na régua, se sente menos e menos alegre, menos criativa ao longo do tempo.

9. DROGAS CONFUNDEM TODOS OS SEUS SENTIDOS.
Como as drogas adormecem o sistema nervoso, elas são uma maneira da pessoa se livrar temporariamente de coisas ruíns como a tristeza,
aborrecimentos ou medo. Às vezes, numa emergência, as drogas são necessárias, por exemplo em uma cirúrgia ou numa caso de acidente.

No entanto, as drogas bloqueiam todas as sensações ou sentimentos. Eventualmente qualquer tipo de sensação ficará difícil de sentir.
Isso inclui as sexuais também. A pessoa se sentirá menos ativa, e poderá não sentir vontade de fazer nada ou se relacionar com alguém à sua volta.

Depois de algum tempo, as drogas fazem as pessoas menos cientes do que está acontecendo, se tornam mais lentas, e não tão rápidas para pensar, ser mover ou reagir. Isso às tornam mais vulneráveis a acidentes e outras situações perigosas, quando estão sob efeito de drogas.

Frequentemente, a pessoa não percebe as mudanças, apesar daqueles que estão à sua volta perceberem e tentarem avisá-la.

10. AS DROGAS PERMANECEM NO CORPO HUMANO POR MUITOS ANOS, APÓS SEREM TOMADAS.
A maioria das drogas fica armazenada na gordura do corpo e podem lá permanecer por vários anos. É assim que acontece:

As drogas se misturam facilmente com a gordura do corpo. Você poderá ver que a gordura está perto da veia e que quando a droga passa por ali,
ela é retirada pela gordura como se fosse um imã.

Isso se transforma num problema mais tarde, porque quando a pessoa está no trabalho, ou exercitando, há uma queima de gordura e uma pequena quantidade de drogas é sugada para dentro da veia. Aí ela sente o gostinho da droga novamente.

O que acontece quando você experimenta um pouquinho de açúcar? Você quer MAIS. O que acontece com o cara que experimenta um pouquinho de droga?
Ele que MAIS. Então ele poderá querer mais drogas, mesmo anos depois que ele parou de tomá-las.


Fonte: narconon.org.br



Profissão Repórter - O crack na classe média.

Nada melhor que uma excelente reportagem pra comprovar a realidade que venho postando. Não existe "droga de pobre"!
Pra quem não viu o programa "Profissão Repórter", apresentado na útima terça (30/06), aqui está. Acho que todos deveriam assistir e ver que a realidade não é bem o que imaginamos. Parece bem pior...
Não sou o fã número uma da REDE GLOBO, mas essa, sem dúvida nenhuma, foi uma maravilha de reportagem.
Assistam com seus filhos!

“CRACK”
qua, 01/07/09
por Redação |

Um retrato impressionante do consumo de crack nas grandes cidades. A droga, consumida antes por usuários de baixa renda, agora atinge a classe média. Os repórteres Thiago Jock e Mikael Fox passam uma semana numa clínica de tratamento de dependentes químicos no interior de São Paulo. Acompanhado do repórter cinematográfico Emílio Mansur, Caco Barcellos percorre as ruas do Centro de São Paulo e faz um registro inédito do dia-a-dia dos consumidores de crack. No Rio Grande do Sul, Felipe Suhre conta a história da mãe, acusada de matar o próprio filho dependente de crack.

Primeiro Bloco:



Segundo Bloco:



http://especiais.profissaoreporter.globo.com/programa/2009/07/01/nesta-terca-crack/

Do crack não se leva nada


Curitiba (PR)- Há pouco mais de um ano, o estudante de Direito “Lucas” (nome fictício – leia depoimento) chegou em casa e percebeu que todos os cômodos estavam trancados, menos um. “Nunca vou esquecer daquelas portas fechadas e do meu quarto aberto, sem nada dentro. Eu já tinha vendido tudo para comprar crack”, conta o universitário de 21 anos, hoje integrado a um programa de terapia intensiva num dos seis centros particulares para dependência química de Curitiba e região metropolitana. Somando todas as internações, sua família já gastou perto de R$ 50 mil.

Quem vê “Lucas”, não diz. Ele tem 1,80m, olhos verdes, é articulado e usa roupas da moda. Em suma, não combina em nada com a imagem miserável associada aos usuários de crack – facilmente alistados nas categorias feios, sujos e malvados. Tão surpreendente quanto ouvir um bem-nascido falar de sua vida bandida pelas bocas-de-fumo do Parolin é saber que vai longe o tempo em que histórias como essa eram pura ficção. O crack, quem diria, está prestes a se tornar para a classe média um item tão comum quanto o tênis de marca e a camiseta de grife. “É uma fatia da população que não se expõe na hora do consumo. Ela pode mandar entregar em casa. A maneira como o crack chega até esse grupo é uma incógnita”, observa o tenente-coronel Jorge Costa Filho, 46 anos, criador e coordenador do Narcodenúncia, serviço da Polícia Militar.

O assunto ainda é tabu e carece de informações precisas. Não é difícil encontrar gente estudada numa das muitas ruas que formam a cracolândia do Centro Velho, onde há mais pedras à venda do que jujubas coloridas nos baleiros. Segundo dados do Narcodenúncia, apenas nos dois primeiros meses deste ano foram 23.560 pedras recolhidas em Curitiba e região. Em contrapartida, não se acha um só estudo, levantamento ou pesquisa que mostre estar longe o tempo em que o crack circulava muito além do Jardim Botânico. Há mesmo quem considere esse dado irrelevante para a saúde pública ou para o combate ao narcotráfico.

Pode até ser. Mas é impossível não pensar na pior das hipóteses: a chegada do crack a fronteiras que lhe eram proibidas não representa o fim da luta de classes, mas o triunfo do crime sobre os setores mais esclarecidos da sociedade – justo os que poderiam atestar o poder da educação no combate à barbárie. Nenhum jovem dependente que more em ocupações irregulares se beneficia de ter como companheiro de trago alguém nascido no Jardim Social ou no Hugo Lange. Ao contrário, ambos se igualam na mendicância e na morte anunciada, sem que um represente uma saída para o outro.

Garimpagem

Durante três semanas, a reportagem da Gazeta do Povo entrevistou cerca de 25 pessoas ligadas a entorpecentes, de policiais a especialistas, passando por usuários e terapeutas, além de ter feito observações nas áreas de risco. Todos identificam o crescimento do crack entre homens e mulheres de nível universitário e de vida financeira à prova de solavancos. Há mesmo quem fale em epidemia dessa droga, como Luiz Antônio Marques de Mendonça, psiquiatra do Hospital Nossa Senhora da Luz e do Centro de Apoio Psicossocial Álcool Drogas Boa Vista (Caps AD); e Marino de Oliveira, 55 anos, presidente da Associação Nacional de Terapeutas em Dependência Química – um dos expoentes da luta antimanicomial no Paraná. Marino atende 28 dependentes químicos – todos usuários de crack.

Mas nem Luiz, Marino ou qualquer outro agente do setor têm em mãos um número capaz de derrubar a “verdade conveniente” de que “crack é a droga dos pobres”. Resta uma única alternativa: vasculhar os arquivos de hospitais, clínicas e centros de apoio em busca de evidências de que aumentou o PIB das pedras. O dado, ainda que cheio de remendos, é estarrecedor. Em seis instituições particulares – Quinta do Sol, Heildelberg, Nova Esperança, Rotenberg, Porto Seguro e Bom Retiro – há 186 vagas para internamento de dependentes químicos. Cerca de 50% dos leitos costumam ser ocupados por jovens e adultos da classe média, usuários de crack. Com exceção do Bom Retiro, a ocupação é a de hotel do litoral do Nordeste – 100% –, com fila de espera.

Nesses locais, a diária – fora remédios – fica entre R$ 180 para conveniados e R$ 300 para não-conveniados. A média de permanência é de 30 a 50 dias. Apenas a Nova Esperança – no bairro Seminário – atendeu 439 dependentes de crack em 2007, o dobro do que havia recebido em 2006. Como os índices são semelhantes nos outros endereços, não seria exagero dizer que apenas ano passado 2 mil pessoas da classe média pagaram por tratamento de drogadição de crack em Curitiba. O número equivale a 30% do total de atendimentos do SUS na região e se aproxima dos cálculos de um dos maiores estudiosos do assunto no estado, o delegado licenciado Nasser Salmen, 44, para quem 20% dos 200 mil dependentes químicos de Curitiba [10% da população] são da classe média.

Em levantamento realizado pelo Paraná Pesquisas, 63,5% dos entrevistados disseram que levariam filho, amigo ou parente a uma clínica de desintoxicação, caso o descobrissem viciado. Não são os únicos sinais de que os mais abastados desembarcaram com ipod e boné da Nike na Riachuelo com a São Francisco, pagando um preço alto pelo passeio. Nos poucos hospitais públicos com leitos para desintoxicação também há indícios de que o crack subiu na pirâmide social. A relação era tradicionalmente 90% de pacientes alcoolistas para 10% de dependentes químicos. Hoje, além da inversão, há o surgimento da clientela que já gastou os tubos em clínicas particulares e disputa, pelo SUS, uma das 350 vagas do Hospital San Julian, em Piraquara; 30 no Hospital Adauto Botelho, em Pinhais; e 150 na Clínica Rotenberg – antigo Hospital Pinel.

Em instituições filantrópicas, como a Casa do Servo Sofredor – uma chácara de 60 mil quadrados no Pinheirinho – há cerca de 60 pedidos por mês vindos de famílias de posses. A preferência, ali, é para os mais empobrecidos. “Recebo de 10 a 15 telefonemas por dia. Há quem nos ofereça R$ 2 mil por mês, mas não temos como aceitar”, explica o criador e diretor da obra, frei carmelita calçado Francisco Manoel de Oliveira, 56, o frei Chico. No CTDia que funciona no Bigorrilho há 60 vagas, mas a demanda é de 1,5 mil – sem distinção de rendas. Ali, o drama do crack também virou estatística.

Quantos são abastados na fila dos programas gratuitos de saúde mental? Não se sabe. Eles se misturam à clientela dos hospitais dia – atendimento no qual não há internação – e nos CapsAD, que só em Curitiba contabilizam 1.140 vagas, 35%, em média, ocupadas por quem usa crack e crack associado a outras drogas. Não são os únicos redutos da classe média. Embora não haja números disponíveis, há indícios de que a faixa B da população invade aos poucos as unidades de saúde (US) em busca de socorro. Basta seguir um raciocínio.

As 132 US têm 1,5 milhão de fichas únicas, preenchidas em consultas médicas. Ou seja – na cidade de 1,7 milhão de habitantes, apenas 200 mil ainda não fizeram cadastro numa unidade. A classe média, obviamente, está entre os 200 mil, mas também entre o milhão e quinhentos. E desfruta dos programas de saúde mental, o terceiro mais procurado nos postos da prefeitura, atrás apenas da hipertensão e do diabetes. Do que se deduz ir longe o tempo de que o crack estava circunscrito aos 500 mil paranaenses de Curitiba e região metropolitana que moram nas ocupações irregulares.

Em tempo. É importante saber que os usuários de crack, hoje, são muito parecidos com o público médio das unidades de saúde. A clientela ali vai de jovens remediados, que estudam em escola pública, a jovens mais abonados.

O avanço sobre a classe média surpreende, mas a única verdade que esse fato revela é que o crack não tem classe. Depois de três meses, em média, a droga transforma ricos e pobres em moradores de rua. Nessas ocasiões, histórias como a de “Lucas” assustam a população. Quer-se descobrir onde fica a boca-de-fumo por onde ele andou. Ninguém sabe. A vida não corre como dantes nas canaletas da capital.

Fonte: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=751650


Relatos de viciados:

“A gente começa pegando R$ 5 da mãe, depois acaba vendendo tudo.”

“Eu estava com 18 anos, usava cocaína e maconha desde os 16, e um dia não achei a droga que procurava. Foi quando experimentei o crack pela primeira vez. Meu pai tinha um cargo público importante e nunca me faltou nada. Ele e minha mãe ficaram chocados quando descobriram. Mas eu já tinha perdido o controle. A gente começa pegando R$ 5 da mãe, depois acaba vendendo tudo. É muito fácil: eu encontrava crack até no condomínio fechado onde minha família tem casa no litoral.

Cheguei ao ponto de dormir dois dias em casa e passar três, quatro na rua, roubando. Vai ficando normal. Quanto mais a gente fuma, mais quer. Eu fumava na própria favela, me dava com o pessoal do Parolin. Conhecia um cara que conhecia outro cara. Era moleza. Mas o crack foi separando a gente. Um dia, a gente estava em cinco, fumando, e apareceu um sujeito com uma pistola 38. Ele deu uns tiros bem ao lado do meu ouvido. Eu achei que ia morrer ali e ser enterrado como indigente. Estava com 20 anos, tinha 1,80 metro e 59 quilos. Ninguém ia saber quem eu era.

Fiquei 50 dias internado, mas recaí quando meu pai morreu, há poucos meses. Ele era alcoolista e acho que é por causa disso que tenho predisposição para as drogas.”



“No dia em que faltou (cocaína), assinei minha sentença de morte e experimentei o crack.”

“Você não faz idéia do que é um desses barracos em que a gente se interna para fumar. Só quem entra e enfrenta aquilo sabe o que é. Cara, é doloroso lembrar. Acho que minha vida com as drogas começou quando eu tinha 13-14 anos e bebia no copo do meu pai. Aos 15, conheci a maconha. Aos 17, traficava. Aos 21, usei cocaína. No dia em que faltou, assinei minha sentença de morte e experimentei o crack.

Foi em 2004. Eu estava alcoolizado, o que é muito comum acontecer. Até então, eu trabalhava como técnico de informática e gastava o que ganhava com as drogas. Com o crack, comecei a me afundar. Passei a ficar até 15 dias sem tomar banho, sem comer, dormindo na casa do "patrão". Eu conhecia todas as favelas – as do Fanny, Parolin, Vila Cubas, mas percebi que não tinha amigos. Fui morar na praia e passei a ganhar R$ 100 por dia, guardando carro, tudo para droga. Logo me vi um mendigo, sujo, barbudo, mexendo no lixo.

Liguei para minha mãe pedindo ajuda e ela disse que seria a última vez. Chamo de momento-chave. Estou limpo desde o dia 27 de dezembro. Quando olho no espelho, agradeço a Deus. Tive medo de morrer. Você já ouviu aquela música, “Paranóia”, do Raul Seixas? Escute. Tem a ver com o crack – o crack é o lixo de tudo.”

06 julho 2009

Por que 90% recaem no crack


Sem sentir prazer por nada, o usuário passa a viver em função da droga

O crack chega ao cérebro de forma tão rápida e intensa que é capaz de transformar mecanismos do sistema cerebral. O crack bloqueia a absorção natural da dopamina, o neurotransmissor que emite a sensação de prazer. Com os neurônios encharcados da substância, surge uma sensação imensa de euforia. Quando o efeito passa, vem a urgência da repetição.

Como a dopamina é o principal regulador do sistema de prazer e recompensa, o crack vicia rapidamente, explica o psiquiatra Felix Kessler. Com o tempo de uso, como muita dopamina é colocada à disposição, suas reservas vão se esgotando. O cérebro se torna menos sensível à droga e a sensação de prazer é substituída por alucinações.

Outra consequência é que o usuário passa a não sentir prazer por outros aspectos da vida, como comida e sexo, explica o psiquiatra Celso Luís Cattani. Numa comparação simples, é como um elástico que, esticado além do limite, não volta mais ao normal. Essa falta de sensibilidade do sistema de recompensa gera uma insatisfação em relação à vida, distúrbio conhecido como anedonia. Na memória, sobra apenas a sensação de prazer gerada pela droga. Sem sentir prazer por nada, o usuário passa a viver em função da droga, ou fica mais propenso a recair no vício.


SÉRIE DO JORNAL PIONEIRO PUBLICADA EM ABRIL DE 2009

http://zerohora.clicrbs.com.br/especial/rs/cracknempensar/19,0,2524711,Por-que-90-recaem-no-crack.html

Crack -O drama de um pai para livrar seu filho

Conheça a história de um professor que tenta salvar o filho da droga

O único filho do professor de sociologia João Pedro* passou o aniversário de 21 anos internado numa fazenda de reabilitação no Litoral Norte. Teve alta no início de junho. A voz de Mateus* agora soa tranquila, depois de cinco meses e meio de tratamento. Mas nada foi fácil.

Nos primeiros dias na fazenda, o rapaz (que tomava calmantes receitados por um psiquiatra) cortou o braço com uma faca de cozinha. Fez a inicial do seu nome. Para os médicos, foi uma tentativa de suicídio.

Mesmo que hoje Mateus more numa cidade do Alto Vale com a avó paterna (o pai continua em Joinville), pode-se dizer que estão mais próximos. O professor batalhou para conseguir internar o filho, já emagrecido e furtando para sustentar o vício em crack. O rapaz, na época, não tinha intenção clara de sair do poço. A iniciativa foi um reencontro. “Me dá um certo orgulho. Fui muito afastado dele. Pagava pensão, mas ficava meses sem ver o piá”, diz João.

O contato com Mateus ficou esporádico após o fim do casamento, há 14 anos. Ainda assim, João notava mudanças no jovem – que usou maconha desde os 15 anos. “Ele sempre escondeu, mas não sou bobo.” O professor percebia que o filho, que não terminou o ensino médio, sumia quando arranjava dinheiro.

Mateus saiu da casa aos 17 anos. A convivência com o padrasto era ruim e ele quis morar numa pensão com amigos. Um dia, João viu o filho num programa de TV. Mateus havia sido preso com outros garotos suspeitos de terem furtado uma bicicleta. O professor foi à delegacia buscar o rapaz.

Em 2008, João pediu que o filho fosse morar com a avó. Temia que ele se endividasse e fosse morto. Mas o jovem continuou a rotina de dependência. Fumava o dinheiro que conseguia com o trabalho numa fábrica. O professor decidiu tomar a frente. Passou 2008 convencendo o filho a se internar e começou a frequentar grupos de apoio. “Aprendi com o Mateus. Ele me disse que [o crack] é uma coisa que tira do chão. O sofrimento é dos pais; porque o viciado não está nem aí.”



http://zerohora.clicrbs.com.br/especial/sc/cracknempensar/19,0,2570001,O-drama-de-um-pai-para-tirar-o-filho-do-crack.html

Crack: da euforia à depressão em poucos minutos

A droga causa dependência em poucas vezes de uso, já que a sensação de prazer inicial não é mais obtida. Além de degenerar o corpo do usuário, também instiga a violência e a criminalidade

Minutos de euforia e prazer seguidos de angústia e depressão. Esses são os efeitos da droga que vem ganhando espaço entre adolescentes, jovens e adultos tanto de classes de baixa renda como as de renda maior. O uso de crack, além de refletir nos índices de criminalidade, acaba trazendo consequências no âmbito familiar e de forma lenta provoca alterações irreversíveis no corpo do usuário.

A droga é feita de um derivado da cocaína, onde se mistura bicarbonato de sódio e água destilada. Depois de fervida e filtrada forma cristais, que são cortados em pedras. É inalada com o auxílio de um cachimbo ou de uma lata e os pulmões conseguem absorver quase 100% da fumaça do crack. Demora apenas cerca de 10 segundos para chegar ao cérebro, onde atua numa região denominada de núcleo tegmental ventral, liberando dopamina, substância ligada ao prazer.

No entanto, a euforia causada pelo consumo do crack dura entre cinco a 15 minutos e, depois disso, a sensação de prazer dá lugar à profunda depressão. “Depois desse efeito vem a chamada ressaca, que é uma sensação de depressão, apatia e o desejo muito forte de buscar novamente aquela sensação prazerosa que a droga proporciona. Bastam três a quatro fumadas para a dependência, que acontece de forma progressiva. Quanto mais o tempo passa, mais a pessoa vai querendo a droga. E aqueles efeitos de prazer que a droga proporciona vão desaparecendo”, explica o médico psiquiatra Líbero Mezzadri.

Segundo ele, o crack é consequência de uma caminhada química que começa pelo álcool e passa por outras drogas como a maconha. “A nossa tolerância com a bebida facilita o uso de drogas ilícitas”, completa.

Foi assim que o filho de dona Maria (nome fictício) entrou nessa viagem, ainda aos 15 anos. Já foi usuário de maconha e também cheirava tinner. Hoje, com 25 anos, ele está internado em uma clínica da cidade. “Faz 40 dias que não o vejo, só recebo as cartas que ele manda. Agora, só vou encontrá-lo no final do mês. Já fiz várias tentativas para tirá-lo desse mundo, mas o tempo maior que ele fica são seis meses. Daí ele sai, encontra os antigos companheiros e, quando a gente menos espera, toma um copo de pinga ou uma cerveja e já corre atrás da droga de novo. São dez anos nessa luta onde ele já esteve quase morto muitas vezes, não só pela droga em si, mas também por traficantes”, conta.

Dona Maria fala que os viciados ficam na fúria pela droga. Pagam as primeiras pedras em dinheiro e, depois, acabam entregando um rolo de jornal ou papel sem nada dentro. “Daí eles correm com a droga e o traficante vem atrás deles”.

A mãe revela que, sob o efeito do crack, o filho fica violento, alucinado, não consegue comer e dormir e pega o que achar pela frente para trocar por pedras da droga. “Ele iniciou nessa droga quando ainda vendia Cds. Começou trocando a droga pelos produtos que vendia e de repente gastava tudo o que ganhava com o trabalho. Daí foi a bicicleta dele, a bicicleta do irmão, daí outra bicicleta que ele emprestou e não parou mais. Ele fica esperando a primeira oportunidade para roubar”, aponta.

O último roubo foi um pouco antes de ser internado, quando ele pegou - antes da mãe - todo o dinheiro que dona Maria tinha para receber. “Agora eu estou correndo atrás não só do dinheiro que eu perdi como do dinheiro que ele pegou do patrão para viajar e fumou tudo. Ele estava trabalhando, mas fica difícil parar num emprego porque não são todas as pessoas que confiam. Numa primeira viagem que ele iria fazer sem que eu estivesse junto ele roubou todo o dinheiro”

Cachimbo do mal

“Acho que todas as drogas são ruins, mas o crack ainda é pior. O crack realmente veio para acabar com a juventude”, essa é a definição de dona Maria sobre a droga que escraviza seu filho. Ela já perdeu televisão e outras inúmeras coisas em função do crack.

Um dia antes da internação, ele fugiu de casa alegando que faria exames, o que não era verdade. Pegou um dinheiro da mãe e saiu para fumar. Ele só apareceu no outro dia, pouco antes de ir para a clínica: os pés já eram uma bolha, o calçado totalmente detonado e ele já não tinha mais a mesma roupa no corpo. Trocou tudo por crack. “Veio para casa com um chinelo de dedo arrebentado. Os traficantes sempre entregam chinelos de dedo emendados com barbante ou arame e ficam com os tênis, roupas ou o que for. Produtos como televisão, aparelhos de som, entre outros, são levados daqui pelo pessoal que vem trazer a droga para eles. Antigamente até revendiam por aqui, mas agora com o policiamento mais intenso eles mandam para um centro de distribuição de fora. Eles normalmente já fazem um pedido sobre o que querem para que os usuários corram atrás”, diz Maria.

De acordo com ela, Guarapuava possui várias "bocas", entre elas, São Cristóvão II (Patental ou Cracolândia), Xarquinho e Sanbra. “No Patental só menores de idade estão entregando. Ali você chega, para o carro e acena quantas pedras quer e eles vêm correndo”.

As pedras, que antes eram vendidas a R$ 10, chegam a custar atualmente apenas R$ 5. “Por isso esse pessoal fica pedindo nos sinaleiros e estacionamentos. Um dia chegou na minha casa um menino bem magrinho pedindo comida e, segundo ele, a mãe tinha tido neném e eles não tinham o que comer. Pediu um quilo de farinha, feijão e óleo. Corri e dei dois pacotes de alimento e, depois que ele foi embora, meu filho disse que eles trocam tudo nas bocas. Eles montam uma espécie de cesta básica que dá o valor da droga e trocam pelas pedras de crack. Hoje eu não dou mais nada, a não ser para as campanhas da igreja”, ressalta.

Ela conta que, um tempo atrás, o crack era vendido também em carrinhos de catadores de papel e de sorvete, nas portas de escolas. “Eu mesma já vi isso”, afirma.

Tratamento é limitado em Guarapuava

Os primeiros relatos sobre o consumo de crack no Brasil surgiram em 1989, entre crianças que viviam nas ruas do centro de São Paulo, um ano antes da primeira apreensão de droga feita na cidade. Vinte anos depois do começo da epidemia na cidade, o crack migrou para os demais estados e o mercado da droga se consolidou em todo país. A droga já teve uso identificado entre consumidores das 27 capitais brasileiras, conforme pesquisas do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).

O crack saiu da periferia e bateu à porta das casas de famílias de classes média e alta, onde também encontrou alento e gerou destruição. “Acredito que o uso dessa droga continua crescendo e não só na classe de baixa renda, como também na classe média. E isso não apenas em Guarapuava, mas em todo o país”, aponta Líbero Mezzadri.

Com relação ao tratamento, o psiquiatra diz que nossa cidade continua limitada. “Hoje a cidade já tem um CAPS AD (álcool e drogas, implantado em 5 de junho de 2008), mas é só um primeiro passo. Creio eu que é pouco frente à demanda que temos e precisamos de centros especializados para menores de 18 anos”.

Ele diz que, entre os pacientes que o procuram, a maioria apresenta dependência em função do crack. “É um grande problema de saúde pública e eu ainda acho que as autoridades da área veem com muito descaso isso”, destaca.

Segundo o médico, estatisticamente 25% das pessoas que procuram ajuda conseguem se livrar da droga, mas não necessariamente na primeira vez. “Se confunde muito tratamento com internamento, e são coisas diferentes. O internamento é a primeira fase do tratamento, a que depois se dá continuidade através de acompanhamento ambulatorial e consultas com especialistas. O tratamento é um processo”, observa.

Fonte: http://www.redesuldenoticias.com.br/noticias/noticia.asp?id=20411

03 julho 2009

Crack - Usuários são mais discriminados que outros.


O uso do crack, meus amigos leitores, é considerado com uma espécie de fim de linha no trajeto da dependência química, reforçando ainda mais o preconceito contra quem consome essa droga, que por muito tempo foi associada exclusivamente à população de rua e moradores da periferia. Hoje vemos que as coisas já não são mais assim, o crack já atingiu as classes média e alta. Todos estão sujeitos ao crack, basta ter a primeira vez. Pesquisadores, usuários (eu, o autor) e traficantes ressaltam este aspecto do vício, que pode se configurar como uma agravante para a recuperação. Posso afirmar, com pleno conhecimento de causa, que o usuário se sente totalmente marginalizado, excluído.

Os próprios jovens mesmo, em geral, são muito preconceituosos e contribuem para isolar o adolescente que usa crack, que se descontrola e rapidamente se torna dependente, isolado em seu mundo. E isso não contribui para que ele peça ajuda, socorro. Isso apenas faz com que a pessoa se isole cada vez mais, aumentando sua relação de dependência com a droga. Digo isso por experiência própria, fui dependente por três anos e consumia muito crack. Infelizmente, amigos leitores, eu tenho pontos de vista que vários pesquisadores jamais terão. Conheço o efeito real do crack, já escutei a pedra “estralando” no cachimbo quando se põe fogo e traga, já queimei os dedos e os lábios inúmeras vezes. Já senti o “baque” da onda, aquele barulho que vem dentro da cabeça quando se segura a fumaça tragada, a “nóia”, a mania de perseguição, já ouvi vozes, tive delírios. Já passei dias acordado e sem comer, só fumando.

Os próprios traficantes, por muito tempo, resistiram a comercializar o crack por acharem que ele destruía rapidamente a saúde e, também, pela imagem dos usuários. O dependente de crack é considerado uma pessoa sem valores, no qual não se pode confiar. Todos acham que você rouba até a mãe! Bom, amigos, roubar eu nunca roubei. Pelo menos esse ínfimo sinal de dignidade eu consegui manter, mas confesso que foram várias as tentações.

O “Boca”, um traficante pequeno, pai de família e carroceiro que vendia a droga pra completar a renda, segundo ele, me disse uma vez: _"O usuário de crack não tem valor, ele rouba a mãe, ele te rouba. Se você for traficante, ele vai te roubar. Só você deixar guardado e sair dali. Se ele souber que está lá, ele vai pegar. Ele é o famoso banho. Ele dá o banho no cara, é liso, ligeiro"

Sempre jogam na cara de quem usa crack, chamam de pedrinha, de tijolo. Você fica humilhado e mal tratado. O crack é uma droga que não permite partilhar com outro amigo, como a maconha que se fuma em “galera”. Esse isolamento agrava e muito a dependência. A droga passa a suprir essa carência afetiva.

Entre os usuários, de outras drogas, de classe média, o crack está diretamente associado à criminalidade. Quem usa drogas (maconha, cocaína, sintéticas) tem preconceito contra quem usa merla e crack. É taxado (“tirado” na gíria do usuário) como “nóia” e ligado à marginalização.

Claro que o vício pode levar usuários a criminalidade. Sempre em busca de conseguir mais droga, o viciado acaba cometendo roubo, assalto e até homicídio. Mas antes da droga, era uma pessoa boa, um pai de família, um estudante. Os usuários podem sim se tornarem bandidos e perigosos. Mas saibam, amigos, que a maioria é honesta. Sei bem o que digo. A maioria sim é honesta, alguns trabalham braçalmente o dia todo, sob um sol escaldante, e fazendo apenas uma refeição simplesmente pra ter R$ 5,00 pra fumar uma pedra “à noitinha, depois do trampo”. Os usuários de crack têm futuro, basta que haja consciência e tratamento de qualidade acessível.

Afinal são pouquíssimo que podem se dar ao luxo de pagar cerca R$ 5 000,00 ao mês, por uma boa clínica particular.

Uma boa notícia é que o nosso governo parece estar acordando para o fato. No Rio de Janeiro já há uma mudança radical no atendimento público aos jovens usuários de crack, com desdobramentos também nas cidades vizinhas. A assistência social vai a casa dos viciados para combater o crack.

“Nós temos 40 Centros de Referência da Assistência Social (Cras), cada um com quatro assistentes sociais, espalhados pelo Rio, com a expectativa de criar mais 10 até setembro. A partir de agora, eles visitarão as casas de quem procurar ajuda, porque o crack é uma droga que com certeza leva à morte e seu consumo cresce de maneira avassaladora”, disse o secretário municipal de Assistência Social, Fernando William.

Fernando William disse ainda que na maioria dos casos, o viciado sabe o que o aguarda e quer deixar o crack, mas se sente impotente. Os familiares precisam do apoio e do acompanhamento em todo o processo de recuperação. “A crise de abstinência do viciado em crack é muito violenta para ser tratada dentro de casa, em situação de vulnerabilidade ou risco. Por isto a presença do Estado é essencial não só nesta primeira etapa, a do tratamento químico, mas também em todo om processo de recuperação do viciado”, concluiu.

Os Cras atendem a população em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação e ou fragilização de vínculos afetivos-relacionais e discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, entre outras. Outra instância do Sistema Único de Assistência Social é o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), num total de nove na cidade do Rio de Janeiro. O Creas é responsável pela oferta de atenções especializadas de apoio, orientação e acompanhamento a pessoas e famílias com membros em situação de ameaça ou violação de direitos.

O governo federal, por meio dos ministérios da Saúde e da Justiça, liberou recentemente R$ 114 milhões para conter o avanço do crack no país, sobretudo nas duas cidades mais populosas, onde existem “cracolândias” há bastante tempo: São Paulo e Rio de Janeiro. Esta verba emergencial será empregada ao longo do ano no tratamento dos usuários, a partir da aquisição de remédios, mas também no acompanhamento psicológico e na terapia de apoio que consolidam a recuperação.

Escrito por Mim, Vencedor

Fontes: Três anos de vício em crack

http://www.agenciabrasil.gov.br

http://www.jornaldamidia.com.br










90kg de CRACK foram apreendidos pela PF em sítio de Minas Gerais

BELO HORIZONTE - A Polícia Federal (PF) divulgou, nesta quinta-feira, a maior apreensão de drogas feita, neste ano, em Minas Gerais. Mais de 90 quilos de crack foram apreendidos, na quarta-feira, em um sítio em Itatiaiuçu, região central do estado. A droga foi descoberta durante investigações sobre o tráfico de drogas em Itaúna, no centro-oeste mineiro. De acordo com PF, o entorpecente seria comprado no Mato Grosso e revendido em Belo Horizonte, Itaúna, e Vitória, no Espírito Santo.

Na operação, foram presas quatro pessoas no local onde a droga estava estocada e também em Belo Horizonte. Entre os detidos, estão o suposto fornecedor da droga, a mulher dele e dois homens que seriam compradores. Além dos 90 quilos de crack, a PF apreendeu um caminhão e R$ 27 mil em dinheiro.

Os envolvidos no caso foram levados para a penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Se condenados, podem cumprir pena de cinco a 15 anos de prisão.

Fonte: Globominas.com

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Bom, amigos leitores, pelo que sei isso daria umas 90 mil pedras de crack. O suficiente pra abastecer um viciado, que consome cerca de 10 pedras de crack por dia, por mais de 24 anos. Claro que ele não viveria nem metade disso! Ou simplesmente manter 3300 usuário leves por pouco mais de uma semana. Essa droga teria um valor de R$ 450 000,00 nas ruas.

02 julho 2009

Traficante terá que pagar tratamento para usuário de drogas


Duas sentenças recentes determinaram pagamento de até R$ 50 mil. Para juiz, valor é para reparação dos danos causados pelo traficante.

Além de anos de cadeia, traficantes internacionais agora estão sendo condenados a desembolsar quantias em dinheiro para custear o tratamento de usuários de drogas e, assim, reparar os danos causados à saúde pública. Duas sentenças recentes da Justiça Federal de São Paulo determinaram pagamento de até R$ 50 mil ao Ministério da Saúde e à Secretaria Estadual da Saúde.

"É inegável que o governo tem um gasto considerável no tratamento, por meio do sistema público de saúde, de dependentes químicos e outras vítimas do narcotráfico. O prejuízo deve, pois, ser suportado não apenas pela sociedade civil, mas também pelos condenados por crimes relacionados com o tráfico", afirmou na sentença o juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Criminal Federal de São Paulo, em ação penal contra dois acusados, um nigeriano e uma brasileira.

Essa foi a segunda decisão do juiz com base em nova regra instituída no inciso IV do artigo 387 do Código de Processo Penal - modificado pela Lei 11.719, de 2008. Ela determina que o juiz deverá fixar o "valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração". Assim, não se trata da apreensão de bens obtidos ilicitamente, mas da reparação pelo criminoso do prejuízo que ele causou. Para Mazloum, os traficantes devem reparar o mal que praticaram custeando o tratamento de dependentes.

A medida é polêmica. Há juristas, como Luiz Flávio Gomes, que a criticam por considerar que a lei fala em reparação para a vítima. "E o tráfico não tem vítima. Os gastos com saúde pública não são os que a lei estabelece como indenizáveis. Apesar de bem-intencionado, o juiz fez uma interpretação ampliada da lei, decidiu por analogia, o que não é possível contra o réu."
Fonte: http://www.jurid.com.br/

01 julho 2009

Maconha vicia?

Autor: Içami Tiba, conferencista, escritor, médico, orientador educacional, psicodramatista, psicoterapêuta e psiquiatra brasileiro. Famoso especialista no aconselhamento e terapia de jovens com problemas e suas famílias.

A maconha vicia e provoca dependência psicológica. Com base num levantamento, feito para se saber quantos se viciam após experimentarem drogas, ficou constatado que 50% dos que provaram maconha ficaram viciados, isto é, de cada dez pessoas que experimentam maconha, cinco acabam viciadas nela.

Cada droga apresenta um índice conhecido como Poder Viciante da Droga. No caso da maconha existe um poder viciante de 50%; da cocaína, de 80%; do crack, da heroína e da morfina há um poder maior que 80%.

É preciso considerar ainda que 14% da população em geral é suscetível a algum vício. Se somarmos o poder viciante da droga com o Fator Viciável da pessoa, dificilmente esta escapará ao vício, se experimentar drogas viciantes.

A afirmação de que a maconha não vicia vem do próprio canabista (pessoa que fuma a Cannabis Sativa, nome científico da planta de que se extrai a maconha). Em geral, ninguém gosta de admitir que está viciado, pois isso significa estar submetido à droga. Não importa a freqüência; se a pessoa não resiste passar sem a droga e foi dominada pelo desejo de consumi-la, já está viciada. É claro que quanto mais freqüente for o uso e mais pesada for a droga, mais grave é o vício. Porém, para continuar alimentando a vaidade pessoal e a auto-estima, o viciado costuma afirmar: “eu paro quando eu quiser”. Mentira – Para ele mesmo e para os outros, porque geralmente todos os viciados querem parar com o vício, mas poucos conseguem. São os que não conseguem parar que usam o argumento de que maconha não vicia.

A medicina já comprovou que a maconha produz uma dependência psicológica. Sua dependência física é que não está comprovada. Só se sabe que alguns canabistas apresentam uma discreta síndrome de abstinência, demonstrando assim a existência de certa dependência física. (Síndrome de abstinência é o conjunto de sintomas pela falta de droga(s) num organismo acostumado a ela(s).

Maconha: naturalmente devastadora

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Fácil de cultivar e de encontrar, relativamente barata, capaz de dar um “barato” legal, amparada por quem defende sua liberação escorado em muletas científicas capengas, a maconha sai destruindo e detonando tanto quanto suas congêneres tidas como mais barra pesada.

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O cigarro é prejudicial porque pode, além de matar quem fuma, matar quem não fuma. O álcool é problema de saúde pública em vários países (Ucrânia e Rússia, por exemplo, onde o hábito de se derrubar uma garrafa inteira de vodca, em goles únicos, é uma instituição). Mas, de longe, nenhuma dessas duas drogas causa tanta polêmica e discussão como a maconha. E tudo porque suas ações no organismo podem ser defendidas tanto por quem a estima como por quem a detrata. Quem ousa defender o cigarro com argumentos científicos sobre suas benesses? Pesquisadores ingleses tentaram e foram quase apedrejados. Com o álcool, o máximo que se pode dizer em seu benefício é que pequenas ingestões de vinho podem auxiliar o ritmo cardíaco (o chamado bom coles-terol). Passou disso, as defesas só se escoram nos tamancos emocionais que essas duas drogas proporcionam. Com a maconha é diferente. Suas propriedades terapêuticas são há muito tempo estudadas. E esse é o ringue em que se batem os contendores.


Para começo de conversa, ninguém usa espontaneamente a maconha por causa de suas propriedades terapêuticas. Usa porque gosta, já que ela induz, conforme o estilo de uso, a um estado narcótico que propicia ao usuário a fuga da realidade. Seja porque motivo for. Se ela beneficia alguma coisa no organismo do sujeito, o faz por tabela. Da mesma forma, a pessoa que bebe não o faz porque é bom para o coração. Faz porque gosta e, a depender dos tragos, também para dar uma escapadinha sabe-se lá para onde. A maconha está entre as primeiras drogas ilícitas a serem consumidas, até porque está presente no cotidiano do homem desde priscas eras. Ela aparece no Pen Ts’oo Ching, texto medicinal de origem chinesa, considerado o mais antigo do gênero no mundo (6.000 anos atrás), onde é indicada para asma, cólicas menstruais e inflamações da pele. Daí se pode aferir que a celeuma em torno de suas propriedades – nar-cotizantes e medicamentosas – são antigas.

Uma vez que surgiu nesse texto chinês, tudo indica que fazia parte do herbário do imperador Nung, da China, há quase 5.000 anos. Outro tratado chinês de 2.000 anos indicava seu uso como anestésico em cirurgias. Já na medicina Ayurvédica da Índia, a maconha é recomendada como hipnótico, analgésico e espasmolítico. No Brasil, seus primeiros registros “medi-camentosos” são desse século. “Os que propunham o uso médico da maconha não apresentam nenhuma novidade pois, na primeira edição da Farma-copéia Brasileira, de 1929, a sua monografia incluía, junto com o extrato fluido (solução), o pó e a tintura (solução alcoólica) de cânhamo indiano (cannabis)”, afirma o Dr. José Elias Murad, em seu livro “Maconha: A Toxicidade Silenciosa” (Editora O Lutador, 1996, 250 págs.). Ele estende o assunto afirmando logo a seguir: ” Já na segunda edição editada em 1959, ela foi retirada porque os especialistas da época julgaram-na sem nenhum valor tarapêutico”.

A tolerância com que se trata a comercialização da
maconha talvez guarde relação com o modo de
administração com que ela chega ao organismo.

Hoje vários estudos foram e estão sendo conduzidos no sentido de verificar sua eficácia no tratamento de câncer, glaucoma, asma e epilepsia entre outros. Aventa-se a hipótese de que a maconha possa ter propriedades anestésicas e antiasmáticas. Pesquisadores debatem em torno de sua eficácia como estimulante de apetite e quadros anoréxicos. Isso quer dizer que os estudos a respeito de sua qualidade como medicamento prosseguem, o que dá munição para aqueles que defendem o uso “tolerável e responsável” da droga. A tolerância com que se trata a comercialização da maconha talvez guarde relação com o modo de administração com que ela chega ao organismo. A polícia, por exemplo, é muito mais rígida com outras drogas – cocaína e crack — do que com essa velha conhecida, quem sabe porque sua forma clássica de utilização resida numa relação muito próxima com o cigarro. Aliás, é comum que o cigarro seja a primeira droga com a qual a maconha é comparada.

A maconha é vendida em pequenas quantidades, normalmente suficientes para um ou dois cigarros. Feitas em trouxinhas de papel ou plástico conhecidas por “parangas”, consiste num cigarro de tamanho usual que pode ser consumido por até três usuários, dependendo da quantidade e qualidade da droga (a mistura, no Brasil, é feita com capim, folhas secas e esterco de boi entre outras “substâncias”). A fumaça é aspirada intensamente e a pessoa chega a prender a respiração – algumas vezes apertando o nariz com os dedos – para intensificar as conseqüências. Entre os utensílios mais utilizados pelos usuários estão os papéis para fechar o cigarro, conhecidos por “seda”, e pequenas piteiras conhecidas como “maricas”, usadas para fumar a droga até o fim do cigarro sem que para isso seja preciso queimar os dedos. Cachimbos também podem ser utilizados para o consumo, mas isso é raro porque pode consumir mais maconha para que sejam obtidos os mesmos efeitos.

Derivada de um arbusto da família Moraceae que pode chegar a dois ou três metros de altura chamado Cannabis sativa, também conhecido como cânhamo, a maconha pode ser cultivada em praticamente todos os tipo de solo e clima, razão pela qual é utilizada em culturas tão diferentes como a África do Sul, os EUA, o Brasil e tantos outros. Planta dióica (ou seja, tem espécimes masculinos e femininos), sintetiza várias substâncias (chamadas coletivamente de canabinóides) dentre as quais os três principais são o canabinol, o canabidiol e uma substância conhecida como delta-9-tetrahidrocanabinol (ou simplesmente THC), que provoca alterações psíquicas importantes no usuário. O teor aproximado de canabinóides é de 2%, mas já se conseguiu teores da ordem de 11,8% no México e 27% na Holanda. A Cannabis indica, outra espécie da família, por sua rusticidade é cultivada a temperaturas baixas no Afeganistão e Paquistão. Seu teor de canabinóides é maior: cerca de 6%.

Na Bahia, um hectare de maconha dá lucro 45 vezes
maior que o de tomate e 200 vezes mais que o de feijão.

Defensores de sua liberalização batem na tecla de que a Cannabis sativa pode fornecer inúmeros outros produtos além do cigarro de maconha. Seu caule e galhos lenhosos prestam-se à fabricação de roupas e sapatos. Certo deputado verde propôs a confecção desses vestuários com a fibra da marijuana. Com baixos teores de THC, a Adidas lançou nos EUA um tênis reciclável feito de fibras da Cannabis. Sugestivamente deu-lhe o nome de Chronic, gíria americana que designa o fumante de maconha. A Sharon’s Finest, companhia de comida natural da Califórnia, lançou o Hemp Rella, queijo à base de sementes de maconha. Cosméticos, detergentes e papéis podem ser gerados a partir da planta. Bem se vêem as múltiplas propriedades da planta que vai muito além da alucinógena e terapêutica. Mas se ficarmos somente na questão da droga veremos que ela se relaciona intimamente com outra questão que também opõe idéias: a questão econômica.

No Brasil, o plantio e a comercialização da maconha é uma atividade rendosa. Não é sem motivo que muitas pessoas abandonam o plantio de grãos. Na região conhecida como o “Polígono da Maconha”, região que vai de Petrolina, em Pernambuco, a Juazeiro, na Bahia, um hectare de maconha dá lucro 45 vezes maior que o de tomate e 200 vezes mais que o de feijão. A importância econômica da maconha para o sertão de Pernambuco, por exemplo, é notável. Quando a polícia destrói plantações, os traficantes fogem e param de dar emprego aos agricultores. Sem dinheiro, esses deixam de movimentar o comércio local e as vendas caem. Mas o plantio de maconha não está restrito ao Nordeste, ainda que esse responda por mais de 90% das plantações no Brasil. Norte, Sul e Sudeste já estão contabilizando bons lucros com seu cultivo, o que leva a polícia a dar batidas sistemáticas nessas regiões. Os traficantes contra-atacam: plantam em pequenas quantidades e as disfarçam em meio a outras culturas.

Se comparado ao que está sendo feito nos EUA, em termos de cultivo da planta, o tipo de manejo que se faz no Brasil é jurássico. Quando o governo Reagan (1980-1988) aumentou a pressão contra os plantadores, esses dispararam um processo de cultivo altamente sofisticado. Em vez de grandes plantações, passaram a abrigar a Cannabis em estufas montadas em apartamentos. Com pesquisa genética, alta tecnologia, manipulação de luminosidade, de nutrientes e dióxido de carbono, os cultivadores colocaram nas ruas dos EUA espécimes com um teor de THC mais alto e que completam a florada em apenas dois meses. Numa área de dois metros quadrados se concentram 100 pés de maconha. Tudo controlado por computadores que zelam também pela segurança dos cultivadores. Com softwares especialmente desenvolvidos eles podem se comunicar, dar alertas sobre a ação da polícia e escapar da prisão.

A liberação lenta do THC no organismo faz com que seus
efeitos se mantenham mesmo depois que se está sóbrio.

Entre a população estudantil, o uso da maconha, além de provocar todos os efeitos conhecidos, causa a queda no rendimento escolar, quando não o abandono dos estudos. A Abraço – Associação Brasileira Comunitária e de Pais para a Prevenção do Abuso de Drogas, entidade de Belo Horizonte (MG) presidida pelo Dr. Murad, atendeu, entre novembro de 1991 e novembro de 1993, 325 pacientes. Segundo dados da instituição, 68,4% desses eram usuários de maconha e do total geral (325), 39% não estavam engajados em nenhum tipo de atividade escolar. Dados do Cebrid – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, entidade da Universidade Federal Paulista – Escola Paulista de Medicina, colhidos pelo professor Elisaldo Carlini em 10 capitais brasileiras, entre novembro de 1996 e novembro de 1997, indicaram que a maconha é a segunda droga ilícita mais utilizada, perdendo apenas para os solventes (veja “droga&Família” nº 2).

Há como se imaginar o esboroamento da vida do usuário pesado da maconha. Como na grande maioria dos dependentes de outras drogas, o dependente da marijuana desenvolve uma série de artimanhas, subterfúgios, simulações que dificultam sua recuperação. Até porque ele não se considera doente da maconha. A liberação lenta do THC em seu organismo faz com que seus efeitos se mantenham mesmo depois que está sóbrio, para usar um jargão mais próximo do alcoolismo. Nesse sentido, as duas drogas – maconha e álcool – podem diferir radicalmente. “Quando um indivíduo, sob ação do álcool, procede de maneira alterada e, depois, sóbrio, é relembrado disso, ele tende a separar a sua pessoa deste tipo de atitude ou comportamento, com alegações do tipo “eu estava embriagado”, exemplifica o Dr. Murad. Com o usuário crônico de maconha ocorre que, mesmo sóbrio, ele permanece com a mesma personalidade desencadeada pela ação da droga, recusando-se a voltar “ao normal”.

Kevin Mc Eneaney, da Phoenix House de Nova York (*) – uma das maiores instituições de tratamento de usuários crônicos de maconha –, afirma que “mesmo quando fica sem fumar, duas ou três semanas, ao invés de voltar ao normal, o usuário teimosamente fica no estado de “racionalidade” que desenvolveu induzido pela maconha”. O Prof. Sidney Cohen, da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, EUA (*), que fez um dos mais completos estudos sobre o uso da maconha naquele país, afirma que a toxicidade comportamental da maconha, proveniente do uso pesado da droga, mesmo por curtos períodos (entre três e seis meses, por exemplo), induz a sutis ou pronunciadas modificações no estilo de vida e nos objetivos do usuário. Quando consumida durante boa parte de horas em que está acordado, ele se entrega a uma sensível passividade e perda de interesse por atividades, pessoas e objetivos. Sua vida pode se esvair como a fumaça da maconha que exala e que o encanta.

Liberar o uso da maconha seria aumentar a maré de
mortes por câncer, enfisema e edema pulmonar, bronquite,
pneumonia, hipertensão arterial, infarto.

Ao contrário de outras drogas, não há casos comprovados de overdose por uso exclusivo de maconha. Com animais, entretanto, há casos registrados na França (década de 40) e em Viamão, Rio Grande do Sul (1995), quando animais morreram depois de ingerir grande quantidade da erva. Os que se batem por sua liberação afirmam que ela nunca matou ninguém. A relação uso-óbito realmente nunca foi confirmada, mas a participação da maconha como co-autora de morte entre usuários é mais do que comprovada. Já que é comparada ao cigarro, uma vez fumada, há como imaginar que tanto quanto o tabaco provoque, no mínimo, os mesmos malefícios. Liberar o uso da maconha seria aumentar a maré de mortes por câncer, enfisema e edema pulmonar, bronquite, pneumonia, hipertensão arterial, infarto. Como diminui os reflexos e debilita a atenção, acidentes de automóveis são mais comuns entre os usuários de maconha. Um levantamento feito no Canadá pelo Dr. Sterling Smith (*) mostrou que, entre os motoristas envolvidos em acidentes fatais, 16% deles haviam fumado maconha antes do evento.

Em defesa da Cannabis, pode-se dizer que seu uso exclusivo não leva seu usuário a cometer atos violentos, como é tão comum com o álcool, o crack e a cocaína. Ao que parece, ela não modifica a personalidade de quem a usa, apenas a potencializa. “A maconha é uma droga idiotizante”, afirma o Dr. Pablo Miguel Roig, psiquiatra do Instituto Greenwood, clínica de recuperação de São Paulo. “A psicose canábica é um quadro psiquiátrico muito grave, que se parece com a esquizofrenia paranóide, provocada pelo efeito narcotizante da maconha”, explica. O que não se sabe é se ela detona uma psicose preexistente ou se provoca esse tipo de psicose. O Dr. Murad afirma em seu livro que “cada vez mais as pesquisas indicam que o uso da maconha é a causa e não a conseqüência desses distúrbios psicológicos”. Só para ilustrar, no século XIX, o poeta Baudelaire escreveu o seguinte sobre a droga em seu livro “Paraíso Artificial”: “O cérebro e o organismo sobre os quais opera o haxixe oferecerão apenas seus fenômenos comuns; aumentados, é verdade, mas sempre fiéis às suas origens”.

Nunca matou ninguém comprovadamente e não leva seus usuários a atos violentos. Certo. E quanto ao suicídio? É sabido que usuário de drogas, sejam elas quais forem, estão muito mais propensos a dar cabo da própria vida do que outras pessoas. Se foge da realidade por meio da droga, pode chegar um dia que nem ela esteja mais proporcionando isso. E é aí que a droga tornar-se um bilhete sem volta. O suicídio é a segunda causa de morte entre os jovens de 15 a 18 anos nos EUA, de acordo com o Dr. Murad. Em seu livro, ele afirma que um relatório americano concluiu que adolescentes daquele país constituem o único grupo etário cuja mortalidade subiu nas duas últimas décadas. “A razão principal disso”, continua, “é a deficiência para dirigir, provocada por álcool e outros drogas, e o suicídio relacionado com o uso de drogas”. O suicídio entre os adolescentes americanos triplicou nas duas últimas décadas, o que coincide com a epidemia de uso de drogas, principalmente a maconha.

Mistura de crack com maconha, o mix que compõe
“a craconha” leva solvente, ácido, talco, mármore
e outros componentes menos nobres.

Muitos profissionais que lidam com jovens usuários crônicos de maconha diagnosticam, com preocupante constância, crises psicóticas aliadas a estados depressivos com tendências suicidas. Se a maconha não provoca mortes diretamente pode, sem dúvida, provocá-las indiretamente, pelos efeitos do uso prolongado e/ou concomitante com outras drogas. Por isso, à maconha não deve ser debitada a exclusividade de um índice maior de suicídios entre seus usuários. No ano passado, a polícia do Rio de Janeiro estourou uma “boca de fumo” onde encontrou “craconha”. Mistura de crack com maconha, o mix que compõe “o produto” leva solvente, ácido, talco, mármore e outros componentes menos nobres ainda. O uso de maconha com álcool é comum e conhecer os processos usados pelo organismo para metabolizar a droga é suficiente para saber porque o corpo vai à lona e pode não se levantar mais: alguns canabinóides deprimem o centro do vômito que, como se sabe, é uma espécie de defesa do indivíduo alcoolizado para eliminar o álcool do organismo; ora se o vômito não ocorre, por estar deprimido o seu centro pela ação da maconha, é lógico que o risco de morte é muito mais pronunciado.

Entretanto, os gladiadores que defendem e atacam a maconha encontram-se no coliseu maior da discussão quando o tema é a propriedade medicamentosa da Cannabis. Os primeiros dizem que seus efeitos terapêuticos, em algumas situações, depõem a favor de sua liberação e demonstram que sua ação no organismo não é tão deletéria quanto se alardeia. Os segundos afirmam que, muito embora algumas ações benéficas da Cannabis tenham sido identificadas, drogas mais atuais, sintetizadas por laboratórios, são muito mais convenientes, eficazes, não possuem a ação narcotizante da droga e, portanto, desvestem (ou ao menos esmaecem bastante) a aura de “remédio” que os primeiros colocam na maconha. Essa é uma das discussões mais acesas e o fogo foi atiçado depois que a prestigiosa revista britânica New Scientist (www.newscientist.com) revelou que ninguém menos que a OMS – Organização Mundial de Saúde censurou um relatório produzido pelos seus próprios pesquisadores no qual os mesmos afirmam que a maconha faz menos mal que o álcool e o cigarro.

Segundo a revista, o estudo comparativo entre a maconha e outras drogas legais, que foi suprimido do relatório sob pressão da OMS, dizia que a maconha, se consumida na mesma escala do álcool e do cigarro, traria menos prejuízos ao organismo do que essas duas últimas. O relatório também concluía que embora existam provas dos efeitos prejudiciais do álcool sobre o feto, o mesmo não se podia dizer da Cannnabis porque os estudos não são conclusivos. O trabalho esclarece ainda que a maconha não causa bloqueio das vias respiratórias, enfisema pulmonar ou qualquer outro dano às funções pulmonares e vicia menos que o cigarro e o álcool. Alguns profissionais que participaram do estudo defendem a posição da OMS alegando que a pesquisa não é útil do ponto de vista social, uma vez que, no subliminar, pode induzir ao consumo da maconha. Seria uma autêntica “escolha de Sofia”, ou seja, se é para se drogar, se é para se entregar a algum vício, que o usuário danifique o seu organismo e sua mente com a droga menos prejudicial. Absurdo!

“A maconha é uma droga idiotizante; ela está sendo
divulgada como uma droga fraca, uma droga
que faz menos mal do que o cigarro”.

No caso dos medicamentos antieméticos, muito embora o FDA – Food and Drugs Administration tenha liberado a comercialização de um produto à base de Cannabis para esse tipo de tratamento, as conclusões quanto à sua eficácia são discutíveis. Tanto o Marinol, utilizado nos EUA, quanto o Nabilone, presente no Canadá, são empregados em forma de cápsulas para o controle de crises de náuseas e vômitos em pacientes com câncer submetidos à quimioterapia. Resultados colhidos em algumas pesquisas demonstram que cerca de 30% a 50% dos pacientes realmente apresentam bons resultados, mas tais percentuais são achados principalmente em pessoas mais jovens e, mesmo assim, não foram melhores do que alguns dos antieméticos clássicos conseguiriam também produzir. Tais medicamentos são utilizados ainda na caquexia, uma condição muito presente nos pacientes HIV positivos, caracterizada pela ausência de apetite, com conseqüente surgimento de quadros anêmicos que concorrem para o agravamento da doença. Com o Marinol e o Nabilone, tais pacientes teriam seu apetite restaurado.

O Dr. George Hyman, oncologista da Universidade da Colúmbia, EUA (*), afirma:”Como o THC é solúvel nas gorduras, não pode ser injetado por via endovenosa; administrado por via oral ou fumado, sua biodisponibilidade (que corresponde à quantidade ativa da droga que entra na corrente sangüinea) é de apenas 6% a 20%, o que fica bem abaixo da metoclopramida (Plasil), por exemplo, droga que pode ser administrada por via endovenosa e que dá uma biodisponibilidade de 100% com poucos efeitos colaterais e nenhuma ação mental”. Bem se vê que tudo o que diz respeito às propriedades terapêuticas da maconha ainda são objeto de estudos que devem ser aprofundados. Apesar de acompanhar o homem desde seus primórdios, a maconha obteve o interesse da comunidade científica apenas a partir de 1964, quando o pesquisador Raphael Mechoulan, da Universidade de Tel Aviv, Israel, extraiu e sintetizou o THC. “A maconha e o THC ainda não mostraram ser realmente úteis nas patologias descritas; mesmo quando suas ações são comprovadas, elas são inferiores às de outras drogas encontradas no mercado, que têm a vantagem de não apresentarem efeitos colaterais, principalmente psíquicos”, alerta o Dr. Murad.

De tudo isso o que se pode inferir? Pelo menos uma coisa: maconha é droga. Alegar que ela possui alguma condição medicinal não tira seu cerne maior de droga. Se a sociedade continuar a bater nessa tecla, terá de permitir que a cocaína seja liberada (afinal, Freud tratou e se tratou com cocaína), a morfina, os ansiolíticos e toda um sorte imensa de drogas que possuem um subextrato de amenização de sintomas danosos ao organismo. “Volto a dizer: a maconha é uma droga idiotizante; ela está sendo divulgada como uma droga fraca, uma droga que faz menos mal do que o cigarro, que não tem conseqüência nenhuma e isso, além de ser uma mentira deslavada, é uma irresponsabilidade”, dispara o Dr. Roig. “Quando ouço o Gabeira, o Lobão, a Rita Lee divulgarem essa droga fico revoltado porque eles só alimentam uma população de adolescentes que usam ou vão usar maconha com conseqüências funestas como baixo rendimento escolar, atenção e memória alterados, desmotivação; e tudo isso leva a um desempenho, escolar e de vida, medíocre”, sentencia.

“Tenho visto usuários de drogas de 18 anos ou mais
que quando se livram da maconha começam a brincar
com miniaturas de carros ou bonecas”.

O Dr. Mitchell Rosenthal, diretor do Phoenix House, de Nova York (*), a maior instituição de tratamento de usuários de drogas dos EUA, enuncia, como que referendando o alerta do Dr. Roig, que “inúmeros adolescentes e jovens não vão amadurecer como deveriam, não terão os ganhos intelectuais que deveriam ter nos seus anos de crescimento, não se tornarão os cidadãos produtivos e capazes de que a sociedade precisa”. E o uso de maconha colabora decisivamente para isso. Para ilustrar, o Dr. Mitchell tira do jaleco uma conclusão extraída de pesquisas americanas que demonstram que “crescem as evidências de que, entre os adolescentes e os jovens, a maconha é uma das maiores causas de problemas psiquiátricos que os EUA vêm enfrentando”. Corroborando a assertiva do médico, o NIDA — National Institute of Drug Abuse (Instituto Nacional de Abuso de Drogas, dos EUA) informa que “a cada ano, aproximadamente, 60 mil pessoas, a maioria jovens brancos que vivem com os pais, procuram tratamento para problemas relacionados ao uso da maconha; esse tratamento, geralmente ambulatorial, dura quatro meses em média, registrando um índice de retorno de cerca de 20%.”

Entorpecidos pela ação da maconha e drogas acessórias, o adolescente poderá fazer emergir uma pessoa com conceitos distorcidos. O cérebro, espremido e afetado por anos de uso das drogas, buscará referenciais dos momentos em que não estava afetado, levando o usuário a comportamentos incompatíveis com sua idade. Ele simplesmente pára de amadurecer e crescer no momento em que começa a se drogar. O Dr. Jason Baron, diretor médico do Hospital “Deer Park”, de Houston, EUA (*), que trata exclusivamente de usuários de drogas na idade de 14 a 25 anos, relata: “Tenho visto usuários de drogas de 18 anos ou mais que quando se livram da maconha começam a brincar com miniaturas de carros ou bonecas, tentando retornar ao tempo que não tiveram ou conheceram; felizmente, com tratamento adequado, pode-se ensinar-lhes certas habilidades que lhes permite recapturar a falta dos anos da infância ou adolescência perdidos”.

O Dr. Roig postula uma tese mais sombria quando afirma que a sociedade de hoje, por estar saturada, está descuidando das novas gerações. “Quando há saturação, a sociedade começa a machucar as novas gerações”. Ele fala de permissividade. É como se fosse a lei da evolução natural. A falta de controle dá raízes esquálidas e imaturas, mas abundantes, a uma geração que não está muito preocupada em herdar bons valores, não se agredir e nem aos outros. São essas pessoas, sem o menor verniz de cidadão (até porque, no caminho em que se encontram, não sabem o que é cidadania), que moldarão as próximas gerações. “Podemos prever o crescimento de uma população de imaturos, adultos não qualificados, vários deles incapazes de viver sem um suporte social, econômico e clínico; com o tempo, teremos um número inimaginável de cidadãos emocional, social e intelectualmente deficientes”, sinaliza o Dr. Rosenthal. Será que devemos assistir passivamente aos herdeiros desse mundo bebendo, fumando, injetando e inalando a morte em nome de uma individualidade torturada e entortada pelas drogas?

 

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